26 maio 2009

QUANDO CHEGAR A CASA...

Foi-me contado pela Directora de Turma. Leandro Miguel – nome fictício, roubado daqui –, aluno do sétimo ano de escolaridade, andava, nos últimos tempos, a comportar-se de um modo que requeria a ajuda da família para regressar ao são convívio da turma. A mãe foi chamada e, no dia aprazado, lá compareceu na escola. A Directora de Turma começou então a desenrolar o novelo das preocupações dos professores pelo comportamento do Leandro. Ainda o relato não estava concluído e já a mãe, salomónica, afirmava: - Bou-o foder! Apercebendo-se do ar varado da professora a mãe lá emendou: -Desculpe minha senhora mas quando chegar a casa bou-o foder!
Depois de ouvir este relato sou obrigado a concluir que Natália Zarubina, a mãe da Alexandra, não tem razão nenhuma quando diz que os portugueses não sabem educar os filhos e deixam-nos fazer tudo o que querem. Os métodos é que são diferentes: Natália educa a filha à chapada e a mãe do Leandro fode-o quando chega a casa. Eu sei porque é que a Natália disse isso: via-se à légua que já tinha um grãozinho na asa. A televisão ainda não tem cheiro – lá chegaremos –, caso contrário o hálito da mulher atiraria qualquer abstémio de costas. E não sou só eu que o digo. O Milhazes, que percebe disto mais do que ninguém, diz o mesmo.

23 maio 2009

A CUIDAR QUE AS FLORES O APLAUDIAM

Ontem – se calhar sem avisarem como já se vem tornando um hábito, vá lá saber-se porquê –, o primeiro-ministro, a ministra da educação e o ministro das finanças apareceram na escola António Arroio para, ao que consta, aporem as suas assinaturas num pindérico contrato de pedreiro para umas obras no edifício. O acto não tinha dignidade suficiente para merecer a presença de mais do que um secretário de estado mas o governo decidiu obsequiá-lo com a presença de três ministros da nação. Não sei se por falta de trabalho nos gabinetes ministeriais se pensando já nas bonitas imagens e frases sonantes que as televisões mostrariam em horário nobre, os três lá foram. A coisa até que nem começou mal. Cada um lá ia dizendo uma piada de circunstância e tudo se encaminhava para que, finalmente, os “comunistas” dessem uma manhã de descanso ao primeiro ministro mais à sua ministra da educação – deixamos propositadamente o ministro das finanças de fora porque a esse já ninguém o leva a sério – mas, quando os estudantes se aperceberam da presença de tal delegação na sua escola foi o bom e o bonito. Foi tamanha a contestação que a luzente comitiva teve de acabar a espectáculo de supetão e ser guiada por caminhos esconsos rumo a uma saída alternativa que os pusesse a salvo do coro de vaias que, com certeza, faria as delícias de alguns canais de televisão à hora do jantar.
Esta mania que, em especial o primeiro-ministro e a ministra da educação, têm de se raspar sub-repticiamente vai-se tornando um hábito pelo que episódios destes, de tão banalizados, começam a não prender a nossa atenção, mas ontem, quando à hora de jantar ouvi dizer que o gabinete do primeiro ministro tinha enviado para as redacções a informação que o Engenheiro Sócrates não tinha saído pela porta do cavalo como estava a ser noticiado, tive um sobressalto. De repente, lembrei-me do “professor Salazar […] em passinhos delicados de freira, ondulando os dedos transparentes para os vasos a cuidar que as flores o aplaudiam[1]. Será que o homem, distribuía aquele ridículo sorrisinho de plástico aos estudantes da António Arroio, pensando que o louvavam?


[1] in "O Manual dos Inquisidores", António Lobo Antunes

01 maio 2009

SAUDADES DE MAIO


Não há pachorra! Depois admiram-se quando as sondagens ameaçam com dezasseis por cento de tontos que ainda contam ir votar. Com a má fama de que goza a classe política, ainda somos obrigados a levar com gente sem qualquer criatividade a entrar-nos pelas portas adentro sempre que ligamos a televisão. Então admite-se que depois de levar umas pauladas, quando todos estávamos à espera de uma resposta proporcional por parte do ofendido, este apenas diga e repita: “. - Marinha Grande! Marinha Grande!”.
Não sei – e não tenho especial interesse em saber, diga-se – quem escolhe o pessoal para estas coisas mas, seja lá quem for, deveria preocupar-se um pouco mais em arranjar malta mais inventiva. Marinha Grande! Qualquer publicitário de meia tigela sabe que isso já não vende.